quarta-feira, 3 de março de 2010

Meu entender

Com o amor eu aprendi a querer morrer. As razões que não são razões, tão pouco lógicas e tão evidentes, estão todas ali explicadas dentro de mim. Aguardam serem expostas no único momento -não se assuste, a morte é apenas um momento- no qual tenho certeza de não querer mais compreender. Até lá, música, leitura, e toda sorte de distrações. E tudo é ardil. Exemplifico, indo ao cinema, só eu e meu corpo, olhar as cenas bonitas de alhures, do por-do-sol que parte para a Lua, vi uma pessoa que mexeu demais comigo. E eu que vivia na ode à solidão, o íntimo do meu pensamento, desejei ardentemente compreender. Eu me sacrifiquei, eu não queria mais olhar. Estava satisfeito com aquela ultima visão até que a satisfação acabasse.


Tudo que passou depois poderia ser descrito num epigrama. Nalgum sonho que tive depois eram palavras formando uma letra melodiosa, feliz, e anódina. Sei que não posso captar o momento em que uma palavra torna-se outra, contudo senti quando o pesadelo tornou-se uma forma de sonho, e era a palavra morte gritada repetida num ritmo militar e repetida num ritmo militar e repetida num ritmo militar tantas vezes quanto o número de vezes que o coração batia. Não era pra sempre, mas era até o fim.


Os momentos alegres, na primavera, quando o pecado morreu, no éden, naquilo que deveria durar pra sempre, no momento mais sublime que jamais tive, eu parei o tempo no ultimo instante da música, no fim da dança, no momento que lábios e línguas… A metáfora que poderia ser para tantas coisas… e eu só quis aprisionar o tempo, audição, toque, paladar, e nada existiria… Era minha metáfora, só minha. Éden! E depois da ilusão eu me tocava junto aos escorpiões desenhados minuciosamente em cada fino fio de veias e artérias porque eu voltei para mim, para tentar algo parecido com o entender, e eu os via. Os pequenos monstros picavam. Não matavam, era apenas veneno o que corria em mim depois.


Eu não sofria pelo sofrimento, mas por não entender. Perfume, flores, fumaça, humano, demasiado humano. Pra que se agora nada mais resta? Eu desejava, eu queimava em entender. Até que… Sim, era sempre o amor. O cupido que apossou-se do sentido, do significado por trás do entender, das palavras que vieram antes. E ele caminhava ignorante acompanhado da palavra que lhe dá a rima mais patética.