terça-feira, 12 de maio de 2009

Cassandra

Cassandra é tão triste, infinitamente triste por saber as respostas. Sua vida perdida, sua respiração ausente, seu sangue nas mãos a cada vez que tenta apagar as perguntas. São apenas detalhes de uma vida em reverso, em que fugir dos príncipes é normal, já que ela sabe que os príncipes sempre irão mentir posto que é apenas o desejo que os encanta. Uma das poucas vezes que sorriu foi depois de ter pensado por um segundo que os príncipes realmente são encantados.

Para quem, como ela, sabe o que virá, o passado é reduzido e o futuro morre (e ela sempre soube que os cravos de abril nascidos depois de maio morrem antes de uma primavera qualquer longe do mar, breves como discos de 78 rotações).

Cassandra é forte, e já tentou vacinar o mundo das grandes mazelas que este enfrenta. O porém é que todos fogem dela. Um dia o cego a ouviu, mas ele foi incapaz de perceber o abismo. Para cada drama, depois o texto (que vai se amarelar) e a fotografia (que vai se descolorir até sumir) com notas de rodapé sob a profeta que teve a força de deixar de sonhar. Suas verdades são razoáveis, mas a insensatez dos homens a ignoram. Eles não conseguem interpretar metáforas. Para ela moinhos de vento que fazem vento para outros moinhos é natural. Ela age como uma condenada a ser ela mesma, e a sentir o peso das duas sublimes árvores do primeiro jardim como tortura.

Mas ela não consegue calar de si as respostas. Seu desespero faz ela caminhar rumo a insanidade tentando apagar as perguntas que todos fazemos. Queria ela um navio de papel que se fosse para um lugar, seria mais calmo onde não houvesse homens nem anjos, e "notável" não fosse adjetivo para hipócritas e assassinos. Ela também percebe a obviedade das pessoas e a facilidade com que elas quebram promessas como lenha.

Cansada, quase viva ou quase morta parece estar. Não há mais perspectivas quando as notas de música substituem os sonhos. Ela não mais dorme porque tampouco consegue acordar, e porque busca realmente não sonhar com o que irá acontecer.

Cassandra não se chama Cassandra ou apenas Cassandra porque está próxima demais da escuridão.

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